Crianças curiosas!

Depois de um pequeno acidente no pátio, as crianças da Turma do Amor me perguntaram muito intrigadas de onde o sangue vem. Respondi que essa era uma excelente pergunta e questionei como poderíamos desvendar esse mistério. Imediatamente uma das crianças respondeu dizendo que teríamos que fazer uma pesquisa, igual à que fizemos sobre os dinossauros no ano passado, e iniciou um diálogo interessante:

— O que é pesquisa mesmo, Marcella?!
— É quando a gente procura algo que a gente não sabe e descobre! – explicou uma das crianças.
— Descobre como? – perguntei ao grupo.
— Nos livros, na internet ou perguntando para o meu pai. Eu e ele somos muito bons em descobrir coisas! – respondeu outro aluno.

Aproveitei a curiosidade das crianças e sugeri que a gente falasse primeiro o que pensávamos sobre o assunto, antes de partir para uma pesquisa. Com isso, uma série de hipóteses surgiu:

— Marcella, acho que o sangue vem da barriga!
— Não! Ele vem da pele! É por isso que quando a gente se machuca sai sangue!
— Acho que sai da cabeça! Ou do braço!
— O sangue enche o corpo todo! Nosso corpo é “enchido” de sangue.
— Não! O osso é que enche o corpo todo. Ele segura a gente e o sangue fica grudado na carne!

Depois de muita conversa, combinei com as crianças de iniciarmos a pesquisa em outra aula, pois já havíamos pensando muito sobre o assunto naquele dia. Elas ficaram um pouco frustradas, mas expliquei que eu precisava de um tempo para selecionar materiais de pesquisa. E, assim, começou o nosso estudo sobre o corpo humano.

Ao comentar com a Dedete, coordenadora pedagógica do Recreio, sobre o interesse das crianças no tema, logo ela teve a ideia de nos emprestar um livro muito interessante chamado “O corpo de Bóris”, da editora Ciranda Cultural.

Quando retomamos o assunto em uma roda de conversa, perguntei para as crianças se elas lembravam o que gostariam de saber e prontamente elas responderam que queriam descobrir de onde vem o sangue. Então mostrei o livro para a turma e iniciamos a nossa pesquisa. E não é que conseguimos descobrir exatamente o que estávamos procurando! Já na primeira página do livro vimos que o sangue é bombeado pelo coração e circula pelo corpo todo. Logo que recebeu essa informação uma das crianças comentou:

— O coração leva o sangue pelo corpo todo, por isso, quando a gente machuca em qualquer lugar sai sangue!
— Exatamente! – concordei.

E o diálogo continuou:

— E porque o sangue dói?
— Ele não dói!
— Dói sim! Quando eu me machuco sai sangue e doí!

Expliquei para as crianças que não é o sangue que dói, mas sim o local machucado. Às vezes, o local também arde, principalmente, quando cortamos a nossa pele.

Ao continuarmos a pesquisa descobrimos que o coração é um músculo com duas partes. Uma parte bombeia o sangue até os pulmões e a outra bombeia o sangue para o resto do corpo.

— Marcella, o que é pulmão?

Procuramos a resposta no livro e encontramos a informação de que os pulmões são como balões que se enchem e se esvaziam. Isso é que nos ajuda a respirar. Também vimos que o oxigênio que a gente respira vai para o sangue.

— E o que é oxigênio, Marcella?
— Oxigênio é o ar que a gente respira – expliquei.

Na pesquisa vimos ainda que no nosso corpo existem pequenos tubos, chamados de artérias e veias, que ajudam o sangue chegar na ponta dos dedos e voltar! As crianças conseguiram identificar suas veias nos seus pequenos bracinhos com facilidade.

As crianças também ficaram encantadas quando descobriram que se colocarmos a mão no peito conseguimos sentir as batidas do coração. Então contei para elas que existe um aparelho chamado estetoscópio que nos ajuda a ouvir com perfeição o “barulho” do nosso coração. Com isso, um aluno nos contou que seus pais têm esse aparelho em casa porque eles são médicos. Combinei com o grupo de levar um estetoscópio para a sala numa próxima oportunidade para, assim, ouvirmos direitinho o barulho dos nossos corações!

Ufa! Quantas descobertas fizemos em uma única pesquisa! Quando perguntei para as crianças se elas tinham ficado satisfeitas com as descobertas, uma das crianças pediu a palavra:

— Marcella, quando a gente morre o coração fica muito sujo e escuro. E ele para de bater… As pessoas ficam muito tristes e choram por isso.

A turma ficou toda em silêncio com esse comentário. As crianças ficaram me olhando com carinhas de tristeza. Rapidamente mudei o rumo da conversa e falei para elas que realmente a gente fica triste quando uma pessoa morre, porque a gente fica com saudade. Mas aí, continuei, é só lembrar das coisas boas que a saudade vai embora e ficamos felizes outra vez! Terminei essa fala perguntando se elas queriam saber mais alguma coisa sobre o nosso corpo e uma das crianças me respondeu muito animada:

— Já sei! A gente quer saber de que é feito o cocô!

E todo mundo caiu gargalhada levando embora aquele clima triste. Pronto! Já temos uma nova pesquisa para fazer. Será que vamos desvendar mais esse mistério?

Professora Marcella Grigorini

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